Por que o futsal não entrará nas Olimpíadas
WiltonCarlosdeSantana
Mestre em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP (SP)
Doutorando em Educação Física na Unicamp (SP)
Há no site da CBFS uma esclarecedora entrevista de Álvaro Melo Filho, membro da Comissão de Futsal da FIFA, acerca dos motivos de o futsal não entrar nas Olimpíadas. Trata-se de leitura obrigatória. Nessa entrevista, o brasileiro explica que o futsal, em função de ser um gênero do futebol e de ser este um esporte olímpico (pois a FIFA é filiada ao COI), faz aquele ser olímpico. Para mim foram duas novidades: primeira, o fato de o futsal ser gênero do futebol; segunda e, sobretudo, isso fazê-lo olímpico.
Em considerando verdade as assertivas de Melo Filho, por que então o futsal não participa do programa olímpico? Ele diz que se trata, por um lado, de uma questão técnica, que se resumiria ao número de modalidades que entra numa Olimpíada (25 no mínimo e 28 no máximo). Assim sendo, o futsal teria chances apenas a partir de 2016, haja vista que para Londres 2012 o COI definiu o total de 26 modalidades. O fato é que para “alguém entrar alguém tem de sair”. Trata-se, portanto de uma regra. Porém, ao se interpretar a entrevista, vê-se que esta não é a questão central. De fato, e isso me chamou à atenção, o imbróglio é político. Segundo Álvaro, “[...] o futsal tem sido utilizado como moeda de troca pelo COI para fazer barganha em relação ao futebol nas olimpíadas”. Moeda de troca? Isso mesmo. Entenda isto: em virtude do poder que o futebol tem de atrair público e, por conseqüência, de gerar mais receita do que outros esportes, o COI insere o futsal no programa, diz Álvaro, se a FIFA liberar 11 jogadores acima de 23 anos para disputarem as Olimpíadas. Ora, isso é absurdo! Se a FIFA liberar esse número de jogadores, teremos uma Copa do Mundo a cada dois anos! Portanto, ela não fará isso. Ela não entregará o seu “produto” para os dirigentes do COI. Portanto, o futsal não entrará no programa olímpico.
“A busca pelo lucro exacerbado é uma patologia que tem levado à demolição da humanidade e do planeta. Por que seria diferente com o esporte?”.
Álvaro Melo descreve, inclusive, a sua proposta para resolver o problema: o futsal substituir o futebol nos Jogos Olímpicos. Ora, isso também não vai acontecer. Por que o COI tiraria o esporte mais popular do planeta das Olimpíadas, abrindo mão da receita que ele gera? A tendência é ficar do jeito que está: o futebol, mesmo jogado por jogadores desconhecidos e seleções inexpressivas, no programa olímpico, e o futsal fora deste.
Agora eu entendi tudo muito bem e as pessoas precisam entender também que quem manda nas Olimpíadas são os “senhores dos anéis” (uma alusão de Simson e Jennings à cúpula do COI num livro chamado “Os senhores dos anéis: poder, dinheiro e drogas nas Olimpíadas Modernas”). O apelo popular (principalmente de nós, brasileiros) é perfumaria. Quem manda no esporte é essa gente que fica sentada nos seus escritórios de luxo, andando nos seus carros importados, usando ternos Armani, viajando o mundo de avião de 1ª classe, aparecendo diante das câmeras de televisão. É sempre a mesma coisa: o desejo de muitos na mão de poucos que se interessam apenas pelo seu umbigo. O esporte é um meio de essa gente ficar cada vez mais rica. O futebol e o futsal não passam de produto para essa gente.
Se os “senhores dos anéis” fossem éticos, não haveria barganha. O cartão de apresentação do futsal para entrar nas Olimpíadas é o seguinte: está sedimentado em 127 países e é jogado nos cinco continentes por crianças, jovens e adultos, homens e mulheres. Prova disso é que a Copa do Mundo de 2008 terá 20 países e um investimento estimado em R$ 80 milhões. Mas, como se viu isso é pouco. Os “senhores dos anéis” não se interessam por essas evidências; o que querem é ganhar dinheiro. A busca pelo lucro exacerbado é uma patologia que tem levado à demolição da humanidade e do planeta. Por que seria diferente com o esporte?
Fico contente que apareça alguém como o Álvaro para denunciar a trapaça do COI. É bom escancarar a sordidez do COI e o fato dessas entidades se interessarem exclusivamente pelo lucro.
Independentemente disso, diria que o futsal não precisa ser olímpico para obter sucesso porque historicamente progrediu sem isso, em particular nos últimos 17, 18 anos, com a entrada da FIFA.
Veja como são as coisas: a comunidade futsalonista queria o futsal no PAN. Pois bem, ele foi incluído. O futsal teve visibilidade no PAN? Penso que sim. Mas mais do que as outras modalidades? Penso que não. Pelo menos não na minha TV. Aliás, quem brilhou mesmo foi o futebol feminino, que, inclusive, já participa do programa olímpico desde 1996. Porém, e infelizmente, não receberá mais verbas por isso. O fato é que a turma do terno Armani, dos escritórios de luxo, dos carros importados e das viagens aéreas de 1ª classe não quer ver mulher jogando bola no Brasil. Prefere usá-las, seminuas, para vender cerveja. Mas isso é tema para um outro texto.
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